quarta-feira, 29 de junho de 2011

Alta do Hospital


(Fragmento do livro Álcool Ajuda ou Autoajuda - Fred Explica - 1999)
Nota: Os textos postados neste blog não obedecem a nenhuma ordem cronológica.


(...)

Foto em: flikr.com


- Pessoal, olha isso aqui! – acordei assustado ao ver uma inchação que ia das panturrilhas até os pés que ficaram parecendo patas de elefante.

Não doía; apenas assustava o aspecto que, a princípio, acreditei ser um indicador de grave enfermidade hepática (associei imediatamente ao sintoma que antecedeu a morte por cirrose de um amigo de bar).
Ligeirinho intercedeu com a sua experiência de sucessivas internações: dentro de no máximo três dias você terá alta médica – isso sempre acontece quando chega a hora de sair daqui – os médicos não sabem ou não querem explicar a razão, continuou.
Não acreditei e, de forma ansiosa procurei o enfermeiro de plantão que confirmou: É amigo, logo, logo, você estará em casa!
Aliviou, mas, mesmo assim, quis consultar algum clínico para uma opinião definitiva.
- Doutor, o que que é isso? – perguntei apontando para o pé redondo.
Com um discreto sorriso, pegou a prancheta, anotou meus dados e afirmou: vou providenciar a liberação do internamento. Quinta que vem você terá alta.
Num misto de euforia e tristeza a minha curiosidade ainda me fez perguntar: doutor, por que essa inchação, que quase me matou de susto, indica que o paciente chegou ao final do tratamento?
- Olha, não vou ser leviano. A ciência ainda não consegue explicar o fenômeno. Só sabemos que esse sintoma indica o fim do processo de desintoxicação. Amanhã seus pés voltarão ao normal, não se preocupe, finalizou.
Senti, firmeza.
Nesse dia usei o orelhão do pátio comunicando minha família de que processo de alta estava em andamento e que acompanhassem junto a administração.
Comuniquei aos amigos um tanto abatido por eles que ainda ficariam algum tempo.
Entretanto com o bom humor característico um deles afirmou: até breve, camarada. Ninguém aqui se interna uma só vez, logo nos encontraremos de novo.
- Olha, apesar da amizade e do carinho de vocês, nunca mais me verão aqui. Estou deixando meu endereço e telefone com o Alberto e, quando saírem, faço questão de encontrar com todo mundo, mas, em liberdade - respondi de imediato.
- Não vou me despedir de ninguém, continuei, não tolero isso. No dia, vou pegar minhas coisas, bater continência e, nada de abraços ou palavras sentidas, basta um até logo! 

(...)

Fred, 29/06/2011

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