segunda-feira, 11 de julho de 2011

Mexendo no baú.


(Fragmento do livro Álcool Ajuda ou Autoajuda - Fred Explica - 1999)
Nota: Os textos postados neste blog não obedecem a nenhuma ordem cronológica.
(...)

Filmes como o Candelabro Italiano, de 1962, despertariam o romantismo e acalmariam um pouco a rebeldia dos tempos de James Dean.

Viriam os Beatles, os Rolling Stones, a Jovem Guarda, os Hippies e muitos outros.
A Bossa Nova.
Paz e amor - uma mensagem
sempre atual.
Foto em: stum.com.br
Viria o movimento paz e amor, por causa das mortes no Vietnã.
A Guerra Fria.
Medo de o mundo acabar.
A segurança do planeta nas mãos de americanos e soviéticos.
Toda a humanidade temia, ingenuamente, uma decisão amalucada, catastrófica e irresponsável.
Aqui, a ditadura a pleno vapor.
Eder Jofre, Pelé, Garrincha e uma infinidade de gênios do esporte, principalmente no futebol.
Chico Buarque em suas composições musicais de fundo político, algumas nas entrelinhas, outras nem tanto.
O exílio dos idealistas.
O Pasquim era o jornal da esquerda genuinamente brasileira. Suas abordagens traziam o humor faceiro da nossa gente. Virava e mexia a ditadura fechava suas portas sob os protestos convenientemente silenciosos dos fanáticos leitores.
Encantos e desencantos no cotidiano jovem da minha geração.
Rica em valores e pobre em liberdade.
Política, mulher e futebol eram os temas vadios da precocidade que logo descobriria nas drogas uma fuga pela desesperança e por algum romantismo.
Falando em drogas um fato marcou a memória de todos.
- O Dom foi preso!

- Como? - perguntamos ao Carlinhos que trouxera a informação como quem queria se fazer o centro das atenções pela novidade revelada.

- Ele precisava de grana para comprar umas bolas; estavam descarregando livros escolares na Livraria Roma e o Dom entrou na fila, como se estivesse ajudando no trabalho. O pessoal da livraria achando que ele fazia parte da equipe do caminhão e esta equipe, acreditando no contrário.

Quando achou conveniente, ele saiu da fila com os livros até o queixo e subiu andando pela Rua Rio de Janeiro. Quando perceberam o cara de pau gritaram – pega ladrão! Nisso o cara começou a correr e um dos pedestres colocou o pé em sua trajetória causando a queda e conseqüente captura. Ele foi conduzido ao distrito policial, finalizou.
- E agora, como é que fica? – perguntei ansioso e preocupado com o amigo.
- Fiquei sabendo, continuou, que o senhor Geraldo levou um advogado até lá e confessou que seu filho não estava no gozo de suas perfeitas faculdades mentais, conseguindo que o transferissem para internação e recuperação no Hospital Santa Clara.
- Dos males o menor, pensei aliviado.
Mas a solidariedade da turma não tinha mesmo limites.
Quando liberaram as visitas, começou um movimento atrevidamente jocoso de aproveitar os encontros e levar Bombons Sonho de Valsa ® para o presidiário do hospital. Mais tarde fui saber que retiravam o miolo branco do chocolate e o recheavam com "Maria Joana" para que o pobre coitado ficasse abastecido e não sofresse crise de abstinência.
Esse tipo de informação somente chegava ao meu conhecimento depois de consumado o fato.
Eu era tido como uma espécie de freio para atitudes de grande risco.
Talvez por ser calculista em extremo costumasse analisar as ações e suas conseqüências. Por certo, se eu tomasse ciência do plano dos bombons, certamente daria o contra. Existia um risco que envolvia, além dos amigos solidários, o próprio paciente, havendo a remota possibilidade de dar errado.
Dom estava em recuperação, com período determinado como pena disciplinar e, se fosse descoberta tamanha ofensa à segurança do Hospital, naturalmente o período seria estendido.
Dessa forma, tão cedo poderíamos desfrutar da companhia do amigo.
Ora, o que a princípio poderia parecer um ato de companheirismo era, na verdade, mais uma forma de desafiar o sistema opressor.
Não se conseguia ânimo e dignidade no horizonte que o regime autoritário e a conjuntura internacional apresentava.
As drogas àquela época tinham outro significado.
As conversas eram relativamente ricas em filosofia.
Pelo menos, pensávamos assim.
Esse tempo passou muito rápido.


Estão batendo no peito
Brasil, pátria amada, Brasil.
Sentido! Soldado direito
Chamam-te baixinho, sem jeito.
Quarenta se passaram, ou trinta?
Ou nunca saíram do prato.
Civil cidadão de quinta?
Ou pierrô parado de quatro?
Sonhos enterrados nos porões
Da vontade sempre alheia
Mataram almas
Deixaram corpos
Inertes, sombrios,
Foram-se as rimas
Se foram as mágicas noites
Ingênuas, boêmias e musicais
Enfraquecidas nas alcovas dos vícios
Covardes pela luta fugida
Reclamar e não bradar
Amar a causa
e não vestir as calças
Isso também corrói
o que sobrou da honra
De fora - paz e amor
Uma coisa meritória daquele povo
"se é para morrer, que seja no maior barato"
Americanos fazendo sombra
Eles sempre perderão vidas
em nome do ideal de seus gabinetes
Pobre povo inebriado pelo patriotismo histriônico
Curral dos mocinhos do cinema
Vítimas, vítimas, vítimas
e não sabem

(...)
Fred, 11/07/2011

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