quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Diamante bruto

Foto em:  viagem.uol.com.br
Numa sexta feira de inverno a tarde caía vermelha e refletia-se nos vidros de uma  elegante agência de automóveis. A presença do velhinho de roupa surrada e longas barbas descuidadas, incomodava os vendedores nos seus impecáveis ternos azul-marinho. Passeava diante das caminhonetes importadas que luziam seus reflexos tentadores pra todo lado.  O que fazer, perguntou um dos profissionais ao outro.   Vá até lá e trate-o como um potencial comprador, sugeriu-lhe o colega de forma irônica.  Assim, com um sorriso horizontal e debochado, chegou até aquele senhor pensando se tratar de alguma pessoa afetada por alzheimer  e suas complicações que a idade costuma machucar os indivíduos.  Apresentou-se recebendo de volta um aperto de mão e escutando: Rocha Nobre, ao seu dispor.  Conteve-se diante do tratamento pré-moderno e começou a cantilena.  Pelo visto, Sr. Rocha, nossos veículos despertaram seu interesse.  Passou valores em dólares, ofereceu todos os tipos de financiamentos disponíveis como CDC e Leasing. Falou sobre a agência usando termos sofisticados como: temos  Breakthrough na área da comercialização de veículos; podemos fazer os melhores Budgets para pessoas que não podem ou não querem pagar em Cash.  Inspirado pela happy hour que se aproximava o vendedor que esmerava-se nos termos da lingua inglesa, foi interrompido pelo idoso maltrapilho.  Garoto, quanto você ganha por mês?! Esse terno é seu ou é emprestado pela loja?! Quanto tempo levou para aprender esses termos estrangeiros?!  Não precisa responder.  Eu já sei! 
Diante da surpresa, o profissional engoliu seco.  
Piorou quando o ancião puxou vários blocos de notas de cem dos largos bolsos de sua velha calça bege lançando-os sobre o capô de uma caminhonete preta que estava ao lado.  
Olhe bem para esse dinheiro, disse o velho em tom de sermão.  É o suficiente para comprar o carro que eu quiser nesse boteco metido a besta. Se não for, tenho mais aqui pertinho.  Fiquei um tempão andando de um lado pro outro e ninguém veio perguntar o que eu queria. E olhe que a loja estava vazia. Percebo quando as pessoas caçoam de mim. Não preciso usar roupa de marca e nem dos não-me-toques da cidade grande.  Consegui  liberdade a custa de muito suor e trabalho em terra bruta.  Estou colhendo o que plantei debaixo de muito sol e chuva.  Sou do mato e para o mato estou voltando.  Minhas mãos calejadas não dariam certo nessas caminhonetes de vitrine.  Fiquem com os seus fricotes que eu vou embora com o meu dinheiro.  Passar bem! 
Situação patética a cena de ver o velho saindo pela porta automática da agência, recebendo os últimos raios de sol que ainda espairava matizes rosados no ambiente e, do pobre vendedor sentado, triste e confuso, numa cadeira de couro. Estava mergulhado em profundas inquietações.  Atormentava-se-lhe a dor da perda de gorda comissão em época de vendas difíceis. 
Pior foi o caro aprendizado daquela tarde. 
Enfim, entendera que  para se cozinhar bem o importante não é saber medidas e, sim, ter um bom paladar.
Fred, 29/09/2011
Nota: história verídica retirada das minhas andanças.


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ponte do Funil - para ver agora, só mergulhando.

Represa do Funil  
A imponente e bela represa tomou o lugar da nostálgica Ponte do Funil. 
Pesquisando pela internet, encontrei a página "Brasil Mergulho", cujo link está abaixo.

sábado, 17 de setembro de 2011

Adauto Santos


Triste Berrante (Adauto Santos) - ZZFred



Em lastfm.com.br
Um pouco sobre o compositor:
Adauto Santos já mereceu elogio dos mais entendidos mestres de nossa música. Dele, por exemplo, falou Inezita Barroso: Considero Adauto Santos o maior compositor do gênero nos dias de hoje. E o que dizer da voz? É aquela que vai lá dentro do coração despertar tudo o que andava adormecido na gente. É mesmo uma voz de anjo bom.. Adauto, você é um filme precioso que precisamos revelar com todas as cores para o mundo. 
Não foi menor o entusiasmo de Mário Lago, o célebre parceiro de Ataulfo Alves em Amélia: ... Que fera de compositor. Assistindo à novela Pantanal me amarrei numa música que dizia que por ali passava boi, passava boiada e meu filho me informou: é do teu parceiro do Foi, o Adauto Santos. O homem é fera nas duas facetas: compondo e cantando...
E Paulo Vanzolini, no encarte do CD TOCADOS DE VIDA E VIOLA DE ADAUTO SANTOS, derrama justos elogios: Mesmo entre os mais autênticos cantores de raiz, não é fácil encontrar quem tenha a intimidade que tem Adauto Santos com a estrutura e com o conteúdo cultural da música de sua região. Excelente violonista, mas onde me parece que melhor se desenvolve é no espaço da viola de dez cordas, na qual produz acompanhamentos ao mesmo tempo de muita sofisticação e de singular direiteza. Cantor de origem rural, passando pela MPB urbana nas melhores companhias, Adauto representa um marco na manutenção da integridade de nossas tradições musicais, caipiras e talvez acanhadas, mas com personalidade máscula e duradoura.
Mas quem é esse Artista tão elogiado, tão afamado?, perguntarão os que estão entrando agora nesse universo da música brasileira. E para eles se introduzirem na obra de Adauto, recomendamos que ouçam.

TRISTE BERRANTE
(Adauto Santos)


Já vai bem longe este tempo, bem sei

Tão longe que até penso que eu sonhei

Que lindo quando a gente ouvia distante
O som daquele triste berrante
E um boiadeiro a gritar, êia!
Eu ficava ali na beira da estrada
Vendo caminhar a boiada até o último boi passar
Ali passava boi, passava boiada
Tinha uma palmeira na beira da estrada
Onde foi cravado muito coração
Mas sempre foi assim e sempre será
O novo vem e o velho tem que parar
O progresso cobriu a poeira da estrada
E esse tudo que é o meu nada
Eu hoje tenho que acatar e chorar
E mesmo tendo gente e carro passando
Meus olhos estão enxergando uma boiada passar
Ali passava boi, passava boiada
Tinha uma palmeira na beira da estrada

Onde foi cravado muito coração



Que grande artista esse paulista cujo nome completo é Adauto Antonio dos Santos, nascido em Bernardino de Campos, SP, em 22 de abril de 1940, criado em Londrina, Paraná, onde iniciou a carreira ao lado da irmã, formando o DUO HAVAÍ, vencedor do Festival Roda de Violeiros, do Capitão Furtado, ali mesmo em Londrina, e gravando, na mesma época, o primeiro disco.

Em 1962 volta para São Paulo, capital, e canta em clubes e boates. Voz bonita e afinada, logo conquista grande público e, aos poucos, vai introduzindo a Viola Caipira em suas apresentações.

Essa mistura, MPB urbana e Viola Caipira desperta a admiração de todos e Adauto, pouco a pouco, vai ganhando espaço nos jornais, nas rádios e na televisão. Espaço este que ampliaria com suas participações no PROGRAMA SOM BRASIL, na TV Globo, comandado por Rolando Boldrin.
Compositor inspirado, sua música TRISTE BERRANTE, que transcrevemos acima, foi um dos sucessos da trilha sonora da novela PANTANAL, na Rede Manchete. E em 1980 participou da trilha sonora do filme CABOCLA TEREZA, baseado na toada de Raul Torres e João Pacífico. No mesmo ano gravou PRA VOSMECÊ, que a CAROL (Cooperativa dos Agricultores da Região de Orlândia Ltda.) ofereceu como brinde de Natal a seus cooperados.
Entre seus parceiros encontramos os já citados Mário Lago e Paulo Vanzolini, além de João Pacífico, Paulo Gudin e outros.
Além de TRISTE BERRANTE, gravou ADAUTO SANTOS: BRASIL VIOLA, VARANDA SERTANEJA, CANTORIA (este último produzido por Lio e Léu) e o último disco foi TOCADOR DE VIDA E VIOLA, gravado ao vivo no teatro da UMES (União Municipal dos Estudantes) em 1995, pela gravadora CPC/UMES e, lançado pela 1997 pelo selo Eldorado, foi indicado para o Prêmio Sharp de Música Regional.
Adauto Santos, que durante anos tocou viola nas noites do mitológico bar Jogral, em São Paulo, incluindo em seu repertório músicas de João Pacífico, Milton Nascimento, Rolando Boldrin, Ary Barrosso, etc., etc., demonstrando que a MPB urbana e a MPB rural podem e devem fazer parte de um mesmo universo: o universo dessa grande arte brasileira que é a Música.
Adauto Santos faleceu em São Paulo, em 22 de fevereiro de 1999, deixando um vazio em nossos corações. E em sua memória relembramos as palavras de João Pacífico: Amigo Adauto Santos, todos os Santos estão orando por você!
Texto de Yassír Chediak

FONTE:

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Escutatório (do inesgotável Rubem Alves)

"Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma. Daí a dificuldade..."
Caricatura do autor em: conselheiroacacio.wordpress.com

""Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular.



Escutar é complicado e sutil. Diz o Alberto Caeiro que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma“. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Aí a gente que não é cego abre os olhos. Diante de nós, fora da cabeça, nos campos e matas, estão as árvores e as flores. Ver é colocar dentro da cabeça aquilo que existe fora. O cego não vê porque as janelas dele estão fechadas. O que está fora não consegue entrar. A gente não é cego. As árvores e as flores entram. Mas - coitadinhas delas - entram e caem num mar de idéias. São misturadas nas palavras da filosofia que mora em nós. Perdem a sua simplicidade de existir. Ficam outras coisas. Então, o que vemos não são as árvores e as flores. Para se ver e preciso que a cabeça esteja vazia.

Faz muito tempo, nunca me esqueci. Eu ia de ônibus. Atrás, duas mulheres conversavam. Uma delas contava para a amiga os seus sofrimentos. (Contou-me uma amiga, nordestina, que o jogo que as mulheres do Nordeste gostam de fazer quando conversam umas com as outras é comparar sofrimentos. Quanto maior o sofrimento, mais bonitas são a mulher e a sua vida. Conversar é a arte de produzir-se literariamente como mulher de sofrimentos. Acho que foi lá que a ópera foi inventada. A alma é uma literatura. É nisso que se baseia a psicanálise...) Voltando ao ônibus. Falavam de sofrimentos. Uma delas contava do marido hospitalizado, dos médicos, dos exames complicados, das injeções na veia - a enfermeira nunca acertava -, dos vômitos e das urinas. Era um relato comovente de dor. Até que o relato chegou ao fim, esperando, evidentemente, o aplauso, a admiração, uma palavra de acolhimento na alma da outra que, supostamente, ouvia. Mas o que a sofredora ouviu foi o seguinte: “Mas isso não é nada...“ A segunda iniciou, então, uma história de sofrimentos incomparavelmente mais terríveis e dignos de uma ópera que os sofrimentos da primeira.

Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma.“ Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. No fundo somos todos iguais às duas mulheres do ônibus. Certo estava Lichtenberg - citado por Murilo Mendes: “Há quem não ouça até que lhe cortem as orelhas.“ Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos...

Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos, estimulado pela revolução de 64. Pastor protestante (não “evangélico“), foi trabalhar num programa educacional da Igreja Presbiteriana USA, voltado para minorias. Contou-me de sua experiência com os índios. As reuniões são estranhas. Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. (Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, como se estivessem orando. Não rezando. Reza é falatório para não ouvir. Orando. Abrindo vazios de silêncio. Expulsando todas as idéias estranhas. Também para se tocar piano é preciso não ter filosofia nenhuma). Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito. Pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que julgava essenciais. Sendo dele, os pensamentos não são meus. São-me estranhos. Comida que é preciso digerir. Digerir leva tempo. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se falo logo a seguir são duas as possibilidades. Primeira: “Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava eu pensava nas coisas que eu iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado.“ Segunda: “Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.“ Em ambos os casos estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: “Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou.“ E assim vai a reunião.

Há grupos religiosos cuja liturgia consiste de silêncio. Faz alguns anos passei uma semana num mosteiro na Suíça, Grand Champs. Eu e algumas outras pessoas ali estávamos para, juntos, escrever um livro. Era uma antiga fazenda. Velhas construções, não me esqueço da água no chafariz onde as pombas vinham beber. Havia uma disciplina de silêncio, não total, mas de uma fala mínima. O que me deu enorme prazer às refeições. Não tinha a obrigação de manter uma conversa com meus vizinhos de mesa. Podia comer pensando na comida. Também para comer é preciso não ter filosofia. Não ter obrigação de falar é uma felicidade. Mas logo fui informado de que parte da disciplina do mosteiro era participar da liturgia três vezes por dia: às 7 da manhã, ao meio-dia e às 6 da tarde. Estremeci de medo. Mas obedeci. O lugar sagrado era um velho celeiro, todo de madeira, teto muito alto. Escuro. Haviam aberto buracos na madeira, ali colocando vidros de várias cores. Era uma atmosfera de luz mortiça, iluminado por algumas velas sobre o altar, uma mesa simples com um ícone oriental de Cristo. Uns poucos bancos arranjados em “U“ definiam um amplo espaço vazio, no centro, onde quem quisesse podia se assentar numa almofada, sobre um tapete. Cheguei alguns minutos antes da hora marcada. Era um grande silêncio. Muito frio, nuvens escuras cobriam o céu e corriam, levadas por um vento impetuoso que descia dos Alpes. A força do vento era tanta que o velho celeiro torcia e rangia, como se fosse um navio de madeira num mar agitado. O vento batia nas macieiras nuas do pomar e o barulho era como o de ondas que se quebram. Estranhei. Os suíços são sempre pontuais. A liturgia não começava. E ninguém tomava providências. Todos continuavam do mesmo jeito, sem nada fazer. Ninguém que se levantasse para dizer: “Meus irmãos, vamos cantar o hino...“ Cinco minutos, dez, quinze. Só depois de vinte minutos é que eu, estúpido, percebi que tudo já se iniciara vinte minutos antes. As pessoas estavam lá para se alimentar de silêncio. E eu comecei a me alimentar de silêncio também. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. E música, melodia que não havia e que quando ouvida nos faz chorar. A música acontece no silêncio. É preciso que todos os ruídos cessem. No silêncio, abrem-se as portas de um mundo encantado que mora em nós - como no poema de Mallarmé, A catedral submersa, que Debussy musicou. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Me veio agora a idéia de que, talvez, essa seja a essência da experiência religiosa - quando ficamos mudos, sem fala. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar. Para mim Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto... (O amor que acende a lua, pág. 65.)""

"A ostra para fazer uma pérola, precisa ter dentro de si um grão de areia que a faça sofrer. Sofrendo, a ostra diz para si mesma: preciso envolver essa areia pontuda que me machuca com esfera lisa que lhe tire as pontas... Ostras Felizes não fazem pérolas... Pessoas felizes não sentem a necessidade de criar. O ato criador, seja na ciência ou na arte, surge sempre de uma dor. Não precisa que seja uma dor doída... Por vezes a dor aparece como aquela coceira que tem o nome de curiosidade. Este livro está cheio de areias pontudas que me machucaram. Para me livrar da dor, escrevi."  (do mesmo autor em Ostra Feliz Não Faz Pérola, Editora Planeta)



Fred, 15/09/2011 (no dia desta postagem o autor completava 78 anos de idade. Feliz coincidência...)





segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A História De Lavras (incluindo curiosidades que antecederam)


Contexto Histórico de Lavras



Bandeira de Lavras em: ferias.tur.br
LAVRAS / MG


O município de Lavras situa-se na Zona Fisiográfica Sul do Estado de Minas Gerais, fazendo parte da Microrregião Alto Rio Grande que é constituída por 9 municípios: Lavras, Ribeirão Vermelho, Ijaci , Carrancas, Itutinga, Nepomuceno, Itumirim, Luminárias e Ingaí. Limita-se ao Norte com Ribeirão Vermelho e Perdões; a Leste com Ijaci e Itumirim; a Oeste com Nepomuceno e ao Sul com Ingaí e Carmo da Cachoeira.
Possui apenas o distrito sede com área de 559,2 Km², abrangendo cerca de 5,59% da superfície total da microrregião. A área do perímetro urbano corresponde aproximadamente a 117,84 km² e a área urbanizada corresponde a 14,16 Km². Sua posição geográfica é determinada pelo paralelo, 21º 14’ 30” de latitude sul e 45º 00’ 10” de longitude oeste de Greenwich. A sede do município encontra-se a 914m de altitude.


HISTÓRICO


A Cidade de Lavras nasceu sobre uma Colina no Vale do Rio Grande, que serviu de Pouso para a Bandeira de Fernão Dias Paes Leme.
Para conseguir atingir a colina eles tiveram que lutar com os índios Cataguás, que desde então passou a chamar-se colina do Pouso do Funil, por causa de uma cachoeira que havia no rio semelhante a um funil. E segundo diz a tradição nos idos de 1698, achou-se a bandeira de Bartolomeu acampada no Pouso do Funil. 
Um integrante dessa bandeira chamado Romualdo Pedrosa da Costa Lima. Perdeu-se sob os fervedouros formados pelas águas que caíam em turbilhões da cachoeira do Funil do Rio Grande, somente voltando à tona para espanto de seus companheiros de jornada, após um dia e uma noite, como se fosse uma aparição de outro mundo. Daí houve em pagamento desse milagre, um fato: o destemido bandeirante depositou na crista da colina do Pouso do Funil, uma imagem de Sant’ Ana, santa de sua devoção, padroeira de sua bandeira .
Esse episódio foi narrado por Batista Caetano, nas suas memórias na comarca do Rio das Mortes . E passados alguns anos chegaram a Lavras, outros bandeirantes. Em 1720, com o fato ocorrido do milagre os bandeirantes ficaram sabendo do mesmo e decidiram ir até o Pouso do Funil para conhecer o local e ver se havia ouro, pois vieram em busca do mesmo em nossa terra. Mas não havia muito ouro em nossa cidade; apenas encontraram uma imagem de Sant' Ana, onde estavam, e sabendo que a imagem era a do milagre ocorrido naquele lugar, trouxeram- na para o acampamento onde estavam, e resolveram ali, onde acampavam fazer uma capela para colocar aquela imagem do milagre acontecido.
Com o fato narrado anteriormente aconteceu o primeiro marco da nossa história: fizeram a capela simples e humilde, e de 1720 à 1729 desenvolveu-se em torno da primitiva capela de Sant'Ana um pequeno arraial, hoje Igreja do Rosário. E os bandeirantes vendo o grande crescimento do arraial resolveram ir até o bispo de Mariana, Dom Frei Manoel da Cruz para entregar um documento pedindo a autorização para construir um povoado em torno da capela; com a autorização de 18 de Setembro de 1751 é concedido a licença para se edificar o povoado denominado, Campos de Sant'Ana das Lavras do Funil, o nome dedicado a padroeira do lugar.
Depois de consumado a construção da capela o Sr. Luiz Gomes de Salgado doador do terreno onde se construiu a capela, oficialmente fez o registro da doação, em 22 de Abril de 1753.
O Bispo de Mariana oficializou a capela em 1754. Em 1810 começou a haver mudanças na capela. O Vigário Francisco Severo Malaquias junto com a irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Pretos melhorou muito a capela, fazendo as partes laterais esquerda e direita.
Depois de ampliada a capela havia uma certa separação dentro da mesma, sendo que próximo ao altar só ficavam os senhores de grandes posses, depois na divisória, no meio da igreja, os de poucas posses e os pretos e já no final da igreja, construíram uma porta onde os não batizados e que não eram católicos, tendo essas três divisões. 
Nesse período foram enterradas várias pessoas dentro da igreja, no fundo do altar. Conseguimos em Carrancas na Matriz, localizar no seu livro de registro nome de cincos pessoas que foram sepultadas dentro da Matriz de Sant`Ana em Lavras, hoje Igreja do Rosário. Os documentos que confirmam os dados dessas pessoas estão guardados lá pois no período que aconteceu o fato, Lavras era freguesia de Carrancas.
Podemos também observar que a partir de um certo tempo os vigários, com o crescimento rápido do povoado, começaram a fazer seus sermões nos púlpitos com medo de causar uma revolta entre os povos,
e assim ficavam no meio entre ricos, pobres, pretos e escravos.
Na capela de Sant' Ana chegaram diversas imagens trazidas de Portugal, e algumas esculpidas por pessoas de alto talento. Podemos dizer que temos um grande acervo de imagens de valor inestimável e entre essas imagens temos algumas que são conhecidas como imagens do Pau-Oco; é que em uma determinada época e lugar eles arrumavam essas imagens para tirar o ouro das igrejas, como por exemplo:
Na Igreja de Sant' Ana, para fazer os detalhes de ouro gastaria duzentas barras de ouro; eles falavam que seriam gastos trezentos e escondiam o restante dentro dos altares e forros das igrejas, e para tirar esse ouro da igreja inventaram as imagens do Pau-Oco; como eles sabiam que as imagens eram ocas durante as procissões escondiam o ouro debaixo das roupas dos santos e no decorrer da procissão tiravam e colocavam em “borná” que carregavam; assim ninguém desconfiava que eles tiravam esse ouro da igreja, pois acreditavam que era gasto todo para fazer os detalhes dos altares. Mas certo dia um dos bandeirantes espertos, no decorrer da procissão deixou cair o ouro, e assim descobriram que roubavam. Eles continuaram em outros lugares a tirar o ouro das igrejas; assim inventaram um objeto chamado Matraca que durante a procissão fazia um som, para que não se pudesse ouvir o barulho do ouro caindo no chão, e desta forma pegava e transportava escondido para ser vendido em outros países.
Não é por acaso que Minas Gerais tem tantas igrejas. Conseguiram construí-las por meio de disputas entre cidades para ver qual delas teria maior número de igrejas com mais ouro. Cada vez que se descobria ouro em uma cidade todos corriam para lá com a finalidade de ganhar muito dinheiro.
O real interesse não era a beleza das igrejas, mas pelo interesse financeiro. A Igreja do Rosário tem pouco ouro porque em Lavras ele era escasso e também era desviado para outras cidades.
Nos anos seguinte com o grande aparecimento do ouro nas Minas Gerais, o rei D. Pedro e sua filha a Princesa Isabel começaram a percorrer o Brasil para ver de onde surgira tanto ouro. E sabendo do aparecimento de ouro em nosso povoado de Sant'Ana das Lavras do Funil mandaram avisar que estariam vindo conhecer o povoado os bandeirantes que residiam em Lavras, começaram a organizar-se para a chegada do rei e sua filha. Sem saber o que fazer decidiram construir uma sacada dentro da capela para hospedar o rei durante uma celebração especial.
Os bandeirantes preocupados com a chegada da Família Real, prepararam tudo só faltavam os visitantes; a tardinha veio a notícia de que haviam chegado na Vila de São João Del Rey, e junto veio a notícia que não poderiam chegar a Lavras porque tinham assassinado um de seus sobrinhos no Rio de Janeiro e precisavam ir para lá com muita urgência. E assim aconteceu. Foram para o Rio e Lavras ficou na história de não ter recebido as ilustres visitas. 
A Princesa Isabel nasceu no Rio de Janeiro no dia 29 de Julho de 1846, faleceu em Paris no dia 14 de Novembro de 1921; era a segunda filha de D. Pedro II e da Imperatriz Tereza Cristina; casou se com o Conde D'Eu Luís Filipe Maria Fernando Gastão de Orleans em 15 de Outubro de 1864, seu nome completo era Isabel Cristina Leopodina Augusta Nicalha Gabriela Rafaela Gonzaga.
Em 28 de Setembro 1871 sancionou a Lei do Ventre Livre e em 1888 a Lei Áurea, que extinguiu a escravidão no Brasil.
Em 1904 a capela de Sant'Ana, passa a ser denominada Igreja do Rosário, pois com a construção da nova Igreja Matriz de Sant'Ana, a antiga capela construída com o nome Igreja do Rosário dos Pretos, situada no final da praça, hoje Leonardo Venerando, foi demolida para aumentar a praça; assim houve a troca de nomes; a Matriz nova chamando Igreja de Sant'Ana e a antiga, Igreja do Rosário.
Hoje a construção da Igreja do Rosário é uma das mais diferentes do Brasil, pois seu estilo é de um Barroco leve mais conhecido como Rococó. 
Foi tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, Processo, Nº: 368-T , inscrição Nº: 316 . Livro Belas Artes, fls. 67 em 02.09.1948.


Finalidade Culto Religioso


O seu interior, contém preciosos trabalhos de entalhe de madeira e pedra, verdadeiras obras de arte. O seu forro foi pintado pelo mestre João José Natividade um dos discípulos do mestre Athaide. No fundo do Altar-Mor todo entalhado em madeira, temos a imagem de N.S.do Rosário. Do lado direito estão as imagens de Bom Jesus do Calvário e Bom Jesus da Cana Verde, todos entalhados em madeira. Já do lado esquerdo, as imagens de N.S.das Dores e Nosso Senhor do Triunfo, há uma roca do século XVIII. Na ala esquerda está a imagem do N.Senhor dos Passos. 
No recinto da Igreja do Rosário, funcionava o Museu Sacro, inaugurado em 13 de Outubro de 1990, onde se encontram aproximadamente cinqüenta peças catalogadas de um grande valor real. ( Encontra-se fechado para reformas)
Vemos na lateral esquerda, a herma do Professor José Luiz de Mesquita, que muito amou e lutou para que a igreja não fosse destruída; a igreja passou por várias reformas e só foi reaberta ao público em 29 de Maio de 1997, sendo o centro dos eventos culturais de nossa cidade.
A data correta da criação do município de Lavras é 13 de Outubro de 1831, e em 3 de março de 1832, foram expedidas as instruções do Conselho da Província para executar o referido decreto, em 31 de agosto de 1832 o ouvidor geral e corredor da Comarca Rio das Mortes lavrou o edital fazendo constar o "Levantamento" da vila em 1º. de setembro de 1832. 
Lavras possuía os seguintes distritos: Carrancas, Perdões, Ribeirão Vermelho, Luminárias, Itumirim, Ingaí.
E em 8 de outubro de 1870, passa a ter uma Comarca. A Lei Provincial N.º 1510 de 20 de julho de 1869 que eleva Lavras a Cidade, proporcionando que fosse eleita a 1ª Câmara Municipal com 9 vereadores dentre eles:



1. Comendador José Esteves de Andrade Botelho
2. Tenente Coronel José Augusto do Amaral
3. Coronel Joaquim Francisco da Costa
4. Capitão Joaquim José de Azevedo
5. Dr. José Constâncio de Oliveira e Silva
6. Joaquim Thomaz Vilela e Castro
7. João Alves de Gouveia, que veio receber o título barão de Lavras
8. José Flávio de Morais
9. Honório José Martins




Fred, 12/09/2011

terça-feira, 6 de setembro de 2011

A Contracultura. Melhor ser do que ter ... e outras viagens...

(Ao ver tanta corrupção, tanto egoísmo, tanto abandono e tanto descaso cultural, deu vontade de rever as utopias dos anos sessenta)

Em: naufrago-da-utopia.blogspot.com
Contracultura é um movimento que tem seu auge na década de 1960, quando teve lugar um estilo de mobilização e contestação social e utilizando novos meios de comunicação em massa. Jovens inovando estilos, voltando-se mais para o anti-social aos olhos das famílias mais conservadoras, com um espírito mais libertário, resumido como uma cultura underground, cultura alternativa ou cultura marginal, focada principalmente nas transformações da consciência, dos valores e do comportamento, na busca de outros espaços e novos canais de expressão para o indivíduo e pequenas realidades do cotidiano, embora o movimento Hippie, que representa esse auge, almejasse a transformação da sociedade como um todo, através da tomada de consciência, da mudança de atitude e do protesto político.
O Festival de Woodstock foi um marco da Contracultura.
A contracultura pode ser definida como um ideário altercador que questiona valores centrais vigentes e instituídos na cultura ocidental. Justamente por causa disso, são pessoas que costumam se excluir socialmente e algumas que se negam a se adaptarem às visões aceitas pelo mundo. Com o vultoso crescimento dos meios de comunicação, a difusão de normas, valores, gostos e padrões de comportamento se libertavam das amarras tradicionais e locais – como a religiosa e a familiar -, ganhando uma dimensão mais universal e aproximando a juventude de todo o globo, de uma maior integração cultural e humana. Destarte, a contracultura desenvolveu-se na América Latina, Europa e principalmente nos EUA onde as pessoas buscavam valores novos.
Na década de 1950, surgiu nos Estados Unidos um dos primeiros movimentos da contracultura: a Beat Generation (Geração Beat). Os Beatniks eram jovens intelectuais, principalmente artistas e escritores, que contestavam o consumismo e ootimismo do pós-guerra americano, o anticomunismo generalizado e a falta de pensamento crítico.
Na verdade, como ideário, muitos consideram o Existencialismo de Sartre como o marco inicial da contracultura, já na década de 1940, com seu engajamento político, defesa da liberdade, seu pessimismo pós-guerra, etc, portanto, um movimento filosófico mais restrito, anterior ao movimento basicamente artístico e comportamental da Beat Generetion que resultaria em um movimento de massa, o movimento Hippie.
Na década de 1960, dessa forma, o mundo conheceu o principal e mais influente movimento de contra cultura já existente, o movimento Hippie. Os hippies se opunham radicalmente aos valores culturais considerados importantes na sociedade: o trabalho, o patriotismo e nacionalismo, a ascensão social e até mesmo a "estética padrão".
O principal marco histórico da cultura "hippie" foi o "Woodstock," um grande festival ocorrido no estado de Nova Iorque em 1969, que contou com a participação de artistas de diversos estilos musicais, como o folk, o "rock'n'roll" e o blues, todos esses de alguma forma ligados às críticas e à contestação do movimento.
"De um lado, o termo contracultura pode se referir ao conjunto de movimentos de rebelião da juventude [...] que marcaram os anos 60: o movimento hippie, a música rock, uma certa movimentação nas universidades, viagens de mochila, drogas e assim por diante. [...] Trata-se, então, de um fenômeno datado e situado historicamente e que, embora muito próximo de nós, já faz parte do passado”. [...] “De outro lado, o mesmo termo pode também se referir a alguma coisa mais geral, mais abstrata, um certo espírito, um certo modo de contestação, de enfrentamento diante da ordem vigente, de caráter profundamente radical e bastante estranho às forças mais tradicionais de oposição a esta mesma ordem dominante. Um tipo de crítica anárquica – esta parece ser a palavra-chave – que, de certa maneira, ‘rompe com as regras do jogo’ em termos de modo de se fazer oposição a uma determinada situação. [...] Uma contracultura, entendida assim, reaparece de tempos em tempos, em diferentes épocas e situações, e costuma ter um papel fortemente revigorador da crítica social." (Pereira, 1992, p. 20).
A partir de todos esses fatos era difícil ignorar-se a contracultura como forma de contestação radical, pois rompia com praticamente todos os hábitos consagrados de pensamentos e comportamentos da cultura dominante, surgindo inicialmente na imprensa foi ganhando espaço no sentido de lançar rótulos ou modismos.
É vital a importância dos meios de comunicação de massa para configurar a contracultura: "pela primeira vez, os sentimentos de rebeldia, insatisfação e busca que caracterizam o processo de transição para a maturidade encontram ressonância nos meios de comunicação" (Carvalho, 2002, p. 7).
O que marcava a nova onda de protestos desta cultura que começava a tomar conta, principalmente, da sociedade americana era o seu caráter de não-violência, por tudo que conseguiu expressar, por todo o envolvimento social que conseguiu provocar, é um fenômeno verdadeiramente cultural. Constituindo-se num dos principais veículos da nova cultura que explodia em pleno coração das sociedades industriais avançadas.
O discurso crítico que o movimento estudantil internacional elaborou ao longo dos anos 60 visava não apenas as contradições da sociedade capitalista, mas também aquelas de uma sociedade industrial capitalista, tecnocrática, nas suas manifestações mais simples e corriqueiras. Neste período a contracultura teve seu lugar de importância, não apenas pelo poder de mobilização, mas principalmente, pela natureza de idéias que colocou em circulação, pelo modo como as veiculou e pelo espaço de intervenção crítica que abriu.
Por contracultura, segundo Pereira, pode-se entender duas representações até certo ponto diferentes, ainda que muito ligadas entre si: Finalmente, esta ruptura ideológica do establishment, a que se se convencionou chamar de contracultura, modificou inexoravelmente o modo de vida ocidental, seja na esfera social, com a gênese do Movimento pelos Direitos Civis; no âmbito musical, com o surgimento de gêneros musicais e organização de festivais; e na área política, como os infindos protestos desencadeados pela beligerância ianque. Pode-se citar ainda o movimento estudantil Maio de 68, ocorrido na França, além da Primavera de Praga, sucedida na Tchecoslováquia no mesmo ano. Pereira (1992) assevera que é difícil negar que a contracultura seja a última – pelo menos até agora - grande utopia radical de transformação social que se originou no Ocidente.
Pode-se ainda considerar muitos movimentos de massa ligados à idéia de rebelião como desenvolvimentos posteriores da contracultura, como, por exemplo, o movimento Punk. Este é visto, pelos próprios punks, como o fim do movimento Hippie. Coicidentemente ou não, a época áurea do Punk, meados dos 70's e a morte de John Lennon (1980), a qual popularizou a frase "O sonho acabou", são muito próximas. No entanto, o maior diferencial entre os Punks e Hippies, além do visual, é a crença na não-violência gandhiana, propagada pelos hippies e negada pelos punks (o trecho desse artigo é errôneo, pois, os punks não apóiam a violência e sim a agressividade social e visual mesmo assim sendo pacifistas). Além disso, os punks possuíam, no geral, uma maior consciência do sentido político de suas atitudes contestatórias.
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Fred, 06/09/2011