sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Coisas que emocionam


"Os sentimentos verdadeiros se manifestam mais por atos que palavras." (Shakespeare)


Desenredo - (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro) - Cristina Motta


Cristina Motta é mais que artista.  Possui uma voz privilegiada e nunca quis se lançar profissionalmente na estrada.  Adotou o pseudônimo 'apenascris' na sua página do YouTube, frisando que só canta no seu canto.  Essa carioca da gema de ouro, além do talento que Deus lhe deu, é muito conhecida daqueles que procuram bom gosto naquele site.  Os acessos às suas postagens, neste momento, atingindo a impressionante marca de 3.862.777, demonstra que existe uma boa parcela da população que aprecia letras e músicas bem acabadas, não importando as datas em que foram compostas.
Falar sobre a Cris, seu talento, sensibilidade e tantas outras qualidades humanísticas, seria enfadonho para quem não teve, ainda, a oportunidade de conhecê-la seja cantando, compondo ou colocando no papel as suas viagens poéticas.
Daí a importância da sua amizade refletida no vídeo acima onde ela rasga elogios imerecidos pra este cidadão que se atreve escrever e cantar - primitivamente - o que vai na  sua alma, não se importando com a pequenez dos seus recursos.
Foi uma sereneta de arrepiar os cabelinhos.  
Ainda mais pelo seu trabalho em buscar imagens da minha querida Lavras.

Fred, 25/11/2011


terça-feira, 22 de novembro de 2011

Cuidado com a fita crepe!

Desenho em dihitt.com.br
Título estranho, né não?! 
Eu explico.
Resolvi envernizar umas cadeiras antigas de palhinha que a idade, o sol e as chuvas de vento envelheceram na varanda da minha casa.  
Foi tudo planejado para a guerra. 
Sim, na minha idade qualquer serviço que necessite agachar, levantar, aspirar odor de tinta ou aguarás é um suplício, exigindo muita organização para sofrer menos com  rinite alérgica e dor na junta.  
Reuni numa bacia de plástico latas, lixas, estopa, pincel, luvas de plástico e uma chave de fenda para abrir e reabrir o recipiente de verniz.  
Coloquei um monte de jornais velhos sob as cadeiras para proteger o piso da varanda e vedar os detalhes nas cadeiras onde a tinta não poderia pegar. 
Quando o vento começou a levantar as folhas dos jornais,  resolvi prende-las no chão com a excomungada da fita crepe.   
Muitas vezes perdi a oportunidade de ficar calado e, dessa vez, perdi a oportunidade de não pensar.
Estava entusiasmado com o relativo sucesso da primeira investida.  
Coisa de amador desacostumado com trabalhos que requeiram habilidade manual, paciência e capricho.  
Depois daquela vitória estava pronto para a outra batalha - pintar a segunda cadeira.  
A estratégia era praticar na menor e partir para a maior com a experiência de um grande mestre.  
Toda arrogância será castigada, diria o grande Nelson Rodrigues mas, o mesmo autor falou, também, que a perfeição é coisa de menininha tocadora de piano.  
Assim, peguei a tralha e fui pra luta mais confiante do que time de futebol profissional jogando uma hipotética partida contra os barrigudos do boteco da esquina.
Enquanto colava os papeis de imprensa no chão, corria os olhos nas velhas manchetes que se repetem, desde que o mundo é mundo,  embrulhadas em novos títulos. 
O tapete de fatos estava, de fato, uma beleza, quando recomecei a pincelar. 
Na mão esquerda a latinha quase cheia do produto diluído e, na direita, o pincel.
Terminada uma área do móvel, levantei-me para dar um passo no seu entorno.  
Pra que?!
Por conta da fita crepe, as folhas do jornal tinham colado na sola da minha sandália havaiana e, foi só levantar o pé para subir, pregada, metade dos jornais que estavam no chão.  
Uma fração de segundo foi bastante para desequilibrar o pintor fazendo voar tinta pra todo lado.  
Nada ficou por manchar. 
Parede, bermuda, camisa, braços, pernas, testa e tudo, enfim, que estava nas proximidades.  
Acidente é uma seqüência  de fatos inesperados.  
Dessa forma, ainda chutei o cabo da chave de fenda que estava enfiada na tal bacia organizada, unindo o resto do material ao caos instalado.
Um palavrão ecoou na redondeza.  
Meio assustado, o vizinho da frente perguntou pela janela: 
- Tudo bem aí, Fred?! 
- Tirando todo o inferno que arrumei, está tudo ótimo.
- Precisa de ajuda?!
- Pó deixá, a guerra vai continuar - agradeci com o que sobrou do humor.
O pior, nessas horas, é ver que as coisas passam a ter mais importância que o ser humano.
Limpar as manchas dos trecos tinha de vir à frente da higiene pessoal. 
E, assim, passei a resgatar os feridos, tentando recuperar o exército em frangalhos.
- Vou arrumar uma intoxicação das brabas, pensei enquanto passava aguarás no chão e juntava pequenas poças de tinta com o pincel levando-o, encharcado,  até a latinha de onde a tinta não deveria ter saído. 
Mais tarde voltei à luta. 
O adversário invisível sucumbiu ante a teimosia do general enlouquecido.
Terminei o trabalho ou, a guerra, não quis nem saber dos prejuízos e, muito menos do preço que um profissional do ramo cobraria.
São as famosas Santas Cacetadas.  
Elas ensinam mais quando, principalmente, se mete os pés pelas mãos e vice-versa.


Alhos, bugalhos e bagulhos.
Fazer o que?




Fred, 22/11/2011






















segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Assis Valente e sua forte história.



 100 anos de Assis Valente
Caricatura emassisvalente.blogspot.com 
















Boas Festas [Anoiteceu o Sino Gemeu]

 (Assis Valente) - ZZFred






Comentários postados no YouTube sobre o vídeo acima:

Iximaria! Foi "de conforça" mesmo!!! Respingou até aqui em terras tieteenses. KKKKKK. Será que eu mereço? Acho que eu mereço sim! *-* Então, obrigada Fred! (Só vc mesmo pra me fazer escutar...)rsrsrsrs
Axé!

Assis Valente

José de Assis Valente
 19/3/1911 Bahia
 10/3/1958 Rio de Janeiro, RJ

Nasceu, segundo seu relato, em plena areia quente, no Caminho de Bom Jardim a Patioba, na Bahia, durante uma viagem de sua mãe. Teve uma infância conturbada, tendo sido roubado dos pais - José de Assis Valente e Maria Esteves Valente - e entregue depois a uma familia para ser criado. Trabalhava até ficar exausto durante a semana e, aos sábados, ia à tarde fazer feira com sua patroa. Vagou com um circo pelo interior, no qual, entre outras coisas, cantava: "Vejam só \ Vejam só \ A roupa que há cem anos, já usava minha avó \ Veio a vez \ veio a vez \ De cada roupa dessas se fazer duas e três". Em Salvador, trabalhou como farmacêutico, fez cursos de desenho no Liceu de Artes e Ofícios e profissionalizou-se como especialista em prótese dentária. Transferiu-se para o Rio de Janeiro, em 1927 e empregou-se como protético. Após muita luta, conseguiu publicar alguns desenhos no Shimmy, Fon-Fon, etc.

No início dos anos 1930, começou a compor sambas. Em 1932, conheceu Heitor dos Prazeres, que muito o incentivou. Em princípios de 1941, casou-se com Nadili, com quem teve sua única filha, Nara Nadili nascida em 1942. Pouco depois o casal se separou. A 13 de maio de 1941, no apogeu de sua carreira de compositor, o Rio de Janeiro foi sacudido com a notícia de que ele se tinha atirado do Corcovado e, milagrosamente preso a um galho de árvore, fora libertado por uma equipe do Corpo de Bombeiros. Mas, embora salvo, moralmente prosseguiu em sua queda do abismo. Nunca mais foi o mesmo. Seu nome foi, aos poucos, sendo esquecido e, a partir de então, só esporadicamente voltava ao cartaz. Anos depois da primeira tentativa, quando Elvira Pagã, com escândalo, cobrou-lhe uma dívida de Cr$ 4.000,00 (quatro mil cruzeiros), tentou novamente o suicídio, dessa vez com lâmina de barbear. Passou então a viver de seu laboratório de prótese dentária e esporadicamente de sua música. Mas, para pagar o laboratório, era geralmente obrigado a contrair novas dívidas. Ao contrário do que muitos pensavam, continuava a compor. Freqüentemente mostrava aos íntimos uma composição nova, de rara beleza. Compunha quase uma música por dia. Não conseguia, entretanto, gravá-las. No máximo, quando as dívidas apertavam, vendia um samba que depois, assinado por outros, fazia sucesso. A 10 de março de 1958, desesperado com sua situação financeira, resolveu suicidar-se. Deixou a casa em que morava, na Rua Santo Amaro, 112, seguiu para o seu consultório na Cinelândia, onde permaneceu até cerca das l3h30 min. Às 15 h foi à Sbacem, sociedade arrecadadora de direitos autorais à qual estava filiado, para se informar de seus rendimentos. Estava tão nervoso que o tesoureiro da Sbacem, Joubert de Carvalho, deu-lhe um sedativo. Ás 16h30 min telefonou para seu laboratório dando instruções a seus empregados do que deveria ser feito após sua morte. Às 17h30 min telefonava para seu editor, Vicente Vitale, e para o embaixador Pascoal Carlos Magno comunicando-lhes que iria se matar. Vitale ainda tentou ligar para a Polícia: era tarde. Exatamente às 17h55 min, portanto, oito dias antes de seu 47º aniversário, em um banco da Praia do Russel, junto de um play-ground onde brincavam crianças, tomou formicida com guaraná. Vestia calça azul-marinho e blusão amarelo. Em seus bolsos foram encontrados um par de óculos, uma carteira de identidade com o retrato rasgado, uma carta para a polícia e duas notas velhas de cinco cruzeiros. Na carta, entre outras coisas, esclarecia que morria por sua vontade, estando seriamente endividado, e fazia um apelo ao público para que comprasse seu novo disco "Lamento". Pedia ainda a Ary Barroso que pagasse o aluguel atrasado de duas residências. E acrescentava: "Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo".

ZZFred, 21 de novembro de 2011