segunda-feira, 9 de maio de 2011

Casinha de Caboclo


(Fragmento do livro Álcool Ajuda ou Autoajuda - Fred Explica - 1999)
Nota: Os textos postados neste blog não obedecem a nenhuma ordem cronológica.



(...)

Tudo começou quando minha mulher e algumas pessoas do nosso relacionamento resolveram montar um esquema para me conduzir a um tratamento de desintoxicação.
Eu bebia mais que gambá.
O plano utilizado para me levar até o hospital se deu assim: fui convidado para ir de Contagem a Belo Horizonte com o objetivo de ajudar na escolha de um atabaque acompanhando o baixista e um dos guitarristas de uma banda de Rock vizinha.
Nunca seria capaz de imaginar que meus amigos participariam de uma conspiração com aquela finalidade. 
Logo eles com os quais mantinha alguma cumplicidade etílica...
Aceitei o convite sob a condição de levar a bordo do automóvel uma garrafa de Gim que era sorvida no gargalo controlando, daquela forma, a dor proveniente de uma cirurgia dentária ainda com os pontos.
Eu estava debilitado por uma alimentação à base de banana amassada e utilizando a bebida como anestésico.
Diziam que eu estava ficando louco, que andava tendo visões e atitudes não habituais.
Lembro-me, em uma das noites que antecederam o evento que estava só, sentado no meio fio à frente de casa quando vi subindo pela rua uma senhora amparada por uma garota.
Vinha cambaleando, certamente por algumas doses a mais e sendo repreendida severamente pela menina.
Abaixei a cabeça para que ela pudesse passar de liso. Eu não aturava conversa de bicudo (estranho não?) e certamente ela haveria de parar e trocar idéias.
Dito e feito.
Ao me ver de cabeça baixa, começou a falar como mãe de santo perguntando:
- O que açucede misifio?
Eu, com algum conhecimento do espiritismo logo notei a farsa; um devaneio alcoólico.
Olhei dentro de seus olhos, estendi minha mão direita para a dela e de mãos dadas afirmei convicto:
- A senhora tinha a sua outra mão paralisada, agora não tem mais.
Ela começou a mexer a mão esquerda e o braço, com os olhos espantados em minha direção. Depois da surpresa natural, aconselhei:
- Vá até sua casa, reze quantos Pais Nossos puder até dormir, e nunca mais se atreva em assuntos que a senhora não entende.
Assustada seguiu pela rua voltando o olhar algumas vezes em minha direção e deixando-se levar suavemente pelas mãos da menina.
Depois do fato, face ao pânico pela situação inusitada, corri para dentro de casa e relatei o fato à minha mulher.
Não sei se acreditou, creio que não, só sei que isso deve ter se somado aos outros detalhes que precipitaram a decisão pelo internamento.
Voltando à compra do atabaque, eu me lembro do carro tomando caminho diferente do que seria natural.
Quando interferi mostrando o erro do trajeto, eles afirmaram que precisavam passar num bairro da periferia para receber o dinheiro de um Show.
Compreendi a explicação e continuei tomando o anestésico.
Lembro-me que pararam em um bar, numa determinada esquina.
Parece que pediam informações.
Na calçada, defronte, começou um pé-de-briga envolvendo dois camaradas estranhos.
Saí do carro com uma energia que não sei de onde veio, intercedi entre eles aos gritos, com argumentos firmes, quando meus amigos saíram correndo do bar querendo ajudar no aparte. Quando chegaram os brigões já estavam em seus carros. O desentendimento começara em função de um pequeno esbarrão de para-choques. Coisa muito pequena para tanta indignação. 
(...)


Fred, 09/05/2011

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