quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A origem do termo "Bossa Nova"


Foto em: malu-azevedo.blogspot.com

Compilado de Jornalismo e Linguagem


Bossa Nova



O Nome

O termo "bossa", originalmente, é um galicismo. No sentido literal, significa a corcova dos camelos; inchaço.
No Rio de Janeiro, passou a ser utilizado para designar o talento especial de uma pessoa a fazer algo. Nesse segundo sentido, aparece no samba “Coisas Nossas”, de Noel Rosa, que diz “O samba, a prontidão e outras bossas/ São nossas coisas, são coisas nossas”.
A partir da década de 1940, foi utilizado para designar os sambas que havia uma parada repentina na música, em que eram encaixadas frases faladas. Surgiu, então, o termo "cheio de bossa", usado para designar alguém que diz algo ou toma uma atitude inesperados.
A incorporação do termo "nova" a "bossa" é atribuida ao jornalista Sérgio Porto, conhecido como Stanislaw Ponte Preta. Segundo ele, um engraxate, ao olhar seus sapatos sem cadarço, disse: “Bossa nova, hein, chefe?”. A partir de então, ele passou a utilizar a expressão em seus textos.
No meio musical, a primeira vez que se falou em “Bossa Nova” foi em 1959. Naquele ano, os bossanovistas fariam uma apresentação no Clube Universitário Hebraico Brasileiro, nas Laranjeiras. O estudante Moisés Fulks, que organizava o espetáculo, anunciou, em um quadro negro, que a atração daquele dia seria: “João Gilberto, Sylvia Teles e um grupo bossa nova apresentando sambas modernos”. Os freqüentadores do clube perguntavam aos músicos, enquanto esses chegavam: “Vocês é que são os bossa nova?”. A partir de então o nome começou a ser adotado.

Por Vinícius

"O que é bossa nova?
Bossa nova é mais Greenwich Village do que 52nd Street, é mais uma chuva fina olhada através da janela de um modesto hotel da 46th Street do que um rubro poente sobre a ilha de Manhattan, visto do Empire State Building. Bossa nova – para citar esse grande new yorker que foi o poeta Jayme Ovalle –, é mais a namorada que abre a luz do quarto para dizer que está, mas não vem, que a loura bonita num casaco de mink que se leva para dançar no El Moroco.
Bossa nova é mais a estrela da tarde quando brilha sozinha no crepúsculo, entre dois arranha-céus, que todo um céu constelado entrevisto de um alto terraço em Hyde Park. Bossa nova é mais uma moça triste atravessando a Broadway quando já se apagam suas luzes que o Great Highway tumultuado em que todas as raças se cruzam e todas as impiedades são permitidas.
Bossa nova é mais a solidão de uma rua de Ipanema que a agitação comercial de Copacabana. Bossa nova é mais um olhar que um beijo; mais uma ternura que uma paixão; mais um recado que uma mensagem. Bossa nova é o canto puro e solitário de João Gilberto eternamente trancado em seu apartamento, buscando uma harmonia cada vez mais extremada e simples nas cordas do seu violão e uma emissão cada vez mais perfeita para os sons e palavras de sua canção. Bossa nova é também o sofrimento de muitos jovens, do mundo inteiro, buscando na tranqüilidade da música não a fuga e alienação aos problemas do seu tempo, mas a maneira mais harmoniosa de configurá-los. Bossa nova é a nova inteligência, o novo ritmo, a nova sensibilidade, o novo segredo da mocidade do Brasil: mocidade traída por seus mais velhos, pais e educadores, que lhe quiseram impor os próprios padrões, gastos e inaceitáveis. Bossa nova foi a resposta simples e indevassável desses jovens a seus pais e mestres: uma estrutura simples de sons super-requintados de palavras em que ninguém acreditava mais, a dizerem que o amor dói mas existe; que é melhor crer do que ser cético; que por pior que sejam as noites, há sempre uma madrugada depois delas e que a esperança é um bem gratuito: há apenas que não se acovardar para poder merecê-lo."

Vinícius de Moraes, janeiro de 1965 
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ZZFred, 24/08/2011

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