domingo, 13 de fevereiro de 2011

Juventude Reprimida – a Resposta


(Fragmento do livro Álcool Ajuda ou Autoajuda - Fred Explica - 1999)
Nota: Os textos postados neste blog não obedecem a nenhuma ordem cronológica.
(...)



Minascentro onde, nos anos 60, funcionava a Secretaria de Saúde e o seu teatro 





"Antes de começar o Um Instante Maestro, que era o nome do espetáculo da programação televisiva, Flávio Cavalcanti ficou como maestro, regendo seus jurados numa paródia picante de uma música de sucesso da época enquanto degustavam algumas doses"




Em 1964 eu e muitos companheiros completávamos quinze anos. 

Idade tradicionalmente difícil. 

Iniciava-se o processo do broto que rompe a semente da infância e projeta-se para fora da terra encantando-se com o sol, a chuva e murchando pela falta ou excesso de um ou de outro. 

"Há que se cuidar do broto pra que a vida nos dê frutos" (Milton Nascimento/Wagner Tiso)

Assim também aconteceu em nosso processo de entrada na pós adolescência. 

O sol da liberdade sombreado pelas nuvens do regime autoritário. 
Como a criatura acaba se adaptando ao meio, aprendemos conviver em relativa paz com os militares. 
Éramos da classe média. Os pais, nos anos sessenta não queriam que os filhos trabalhassem. Deveriam priorizar os estudos para conseguir independência financeira. 
Tinham de se tornar doutores em alguma coisa e comigo não foi diferente.
Nesse contexto e, como as mesadas eram curtas, tivemos que desenvolver técnicas que nos permitissem participar de qualquer evento sem desembolsar um tostão.
- Fred coloca o terno aí que nós vamos entrar no Show do Flávio Cavalcanti sem pagar! 
- Como é que é? – perguntei ao Jackson, o especialista nestas coisas. 
– Nós vamos para a entrada dos artistas no teatro da Secretaria de Saúde. Em meio ao tumulto que vai se formar ficaremos dando uma de segurança. A equipe do teatro pensará que fazemos parte da turma do Show e a outra pensará o contrário. Não tem erro.
Dito e feito. 
- É conveniente mostrar autoridade no local, fazer cara de mau e falar pouco, disse o professor a caminho do teatro.
Chegamos a ajudar uns elementos da organização que estavam inseguros, exigindo aos populares que se afastassem da entrada com alguma educação e muita energia. 
Colaboramos para formar o cordão de isolamento de mãos dadas com os “colegas” e adentramos no local reservado aos artistas preservando a integridade física dos famosos como uma galinha protege sua cria. 
Foi uma experiência interessante. 
Antes de começar o Um Instante Maestro, que era o nome do espetáculo da programação televisiva, Flávio Cavalcanti ficou como maestro, regendo seus jurados numa paródia picante de uma música de sucesso da época enquanto degustavam algumas doses.
Era o programa de maior sucesso da TV e os mineiros estavam orgulhosos da transmissão para todo o Brasil, feita da nossa capital. 
Quando soou a campainha avisando que estava próximo o início do espetáculo, Flávio raspou a garganta e incorporou um jeito de lorde inglês.
Todos os componentes da mesa o acompanharam na transformação, cada qual assumindo o perfil que lhe era destinado e nós ali com cara de poucos amigos como era conveniente aos bons profissionais da área de segurança.
A Praça da Alegria também foi apresentada no mesmo local e nós dois também usamos do mesmo expediente.
O saudoso Manoel de Nóbrega, Ronald Golias e toda a equipe dos melhores comediantes ali, a menos de dois metros, tratando de assuntos dos mais diversos – o enredo do show já estava em suas cabeças. 
Eram pessoas comuns nos bastidores e, no palco, grandes artistas. 
Incorporavam seus personagens a despeito de seus humores, às vezes sombrios. 
Presenciei deboches e arrogâncias nas cochias.
Todavia, numa concentração quase mediúnica, transformavam-se em personagens populares e muito engraçadas. (...)

Fred, 14/02/2011

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