terça-feira, 22 de novembro de 2011

Cuidado com a fita crepe!

Desenho em dihitt.com.br
Título estranho, né não?! 
Eu explico.
Resolvi envernizar umas cadeiras antigas de palhinha que a idade, o sol e as chuvas de vento envelheceram na varanda da minha casa.  
Foi tudo planejado para a guerra. 
Sim, na minha idade qualquer serviço que necessite agachar, levantar, aspirar odor de tinta ou aguarás é um suplício, exigindo muita organização para sofrer menos com  rinite alérgica e dor na junta.  
Reuni numa bacia de plástico latas, lixas, estopa, pincel, luvas de plástico e uma chave de fenda para abrir e reabrir o recipiente de verniz.  
Coloquei um monte de jornais velhos sob as cadeiras para proteger o piso da varanda e vedar os detalhes nas cadeiras onde a tinta não poderia pegar. 
Quando o vento começou a levantar as folhas dos jornais,  resolvi prende-las no chão com a excomungada da fita crepe.   
Muitas vezes perdi a oportunidade de ficar calado e, dessa vez, perdi a oportunidade de não pensar.
Estava entusiasmado com o relativo sucesso da primeira investida.  
Coisa de amador desacostumado com trabalhos que requeiram habilidade manual, paciência e capricho.  
Depois daquela vitória estava pronto para a outra batalha - pintar a segunda cadeira.  
A estratégia era praticar na menor e partir para a maior com a experiência de um grande mestre.  
Toda arrogância será castigada, diria o grande Nelson Rodrigues mas, o mesmo autor falou, também, que a perfeição é coisa de menininha tocadora de piano.  
Assim, peguei a tralha e fui pra luta mais confiante do que time de futebol profissional jogando uma hipotética partida contra os barrigudos do boteco da esquina.
Enquanto colava os papeis de imprensa no chão, corria os olhos nas velhas manchetes que se repetem, desde que o mundo é mundo,  embrulhadas em novos títulos. 
O tapete de fatos estava, de fato, uma beleza, quando recomecei a pincelar. 
Na mão esquerda a latinha quase cheia do produto diluído e, na direita, o pincel.
Terminada uma área do móvel, levantei-me para dar um passo no seu entorno.  
Pra que?!
Por conta da fita crepe, as folhas do jornal tinham colado na sola da minha sandália havaiana e, foi só levantar o pé para subir, pregada, metade dos jornais que estavam no chão.  
Uma fração de segundo foi bastante para desequilibrar o pintor fazendo voar tinta pra todo lado.  
Nada ficou por manchar. 
Parede, bermuda, camisa, braços, pernas, testa e tudo, enfim, que estava nas proximidades.  
Acidente é uma seqüência  de fatos inesperados.  
Dessa forma, ainda chutei o cabo da chave de fenda que estava enfiada na tal bacia organizada, unindo o resto do material ao caos instalado.
Um palavrão ecoou na redondeza.  
Meio assustado, o vizinho da frente perguntou pela janela: 
- Tudo bem aí, Fred?! 
- Tirando todo o inferno que arrumei, está tudo ótimo.
- Precisa de ajuda?!
- Pó deixá, a guerra vai continuar - agradeci com o que sobrou do humor.
O pior, nessas horas, é ver que as coisas passam a ter mais importância que o ser humano.
Limpar as manchas dos trecos tinha de vir à frente da higiene pessoal. 
E, assim, passei a resgatar os feridos, tentando recuperar o exército em frangalhos.
- Vou arrumar uma intoxicação das brabas, pensei enquanto passava aguarás no chão e juntava pequenas poças de tinta com o pincel levando-o, encharcado,  até a latinha de onde a tinta não deveria ter saído. 
Mais tarde voltei à luta. 
O adversário invisível sucumbiu ante a teimosia do general enlouquecido.
Terminei o trabalho ou, a guerra, não quis nem saber dos prejuízos e, muito menos do preço que um profissional do ramo cobraria.
São as famosas Santas Cacetadas.  
Elas ensinam mais quando, principalmente, se mete os pés pelas mãos e vice-versa.


Alhos, bugalhos e bagulhos.
Fazer o que?




Fred, 22/11/2011






















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