sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Saqueiro

Foto: itachi-reborned.blogspot.com
Não é um fabricante ou vendedor de sacos e, sim, um estado de espírito que fica entre o tédio e a tristeza. O que chega mais perto é o desânimo. O neologismo se originou da expressão saco cheio ou bode. Foi inventado no finalzinho dos anos sessenta por meu amigo Nilson Resende.  Tempos depois, Nilson abandonaria o último ano de engenharia civil da Universidade Federal de Minas Gerais para se matricular nos estudos do violão clássico. Era como eu, inconformado com as imbecilidades do cotidiano na ditadura instalada que barbarizava e descabelava as barbas e os cabelos dos revoltados. Só restava a música para atenuar o ambiente pesado e a falta de horizontes. Virava e mexia, estávamos sentados na grama do jardim de uma igreja, próxima ao Colégio Arnaldo, mergulhados em prematuras divagações filosóficas.  
Mal sabíamos que filosofia é a ciência com a qual e, sem a qual, você cai do mesmo jeito. No entanto, pensar era bom e abria a cabeça. Trágico quando mergulhávamos em idéias depressivas ou labirintos que a falta de informação conduzia. Aí vinha o tal "saqueiro". Uma tragédia silenciosa e sufocante. Krishnamurti e Hermann Hesse acudiam quando a coisa apertava. Sentia-me velho aos dezenove anos. Difícil encontrar garotas interessadas por caminhar nas estradas sem destino palpável. Melhor ir direto ao vamos ver e, sem muita conversa. Nem preciso dizer o quanto ficavam assustadas as menininhas caseiras, educadas na burguesia. Se pensar era proibido pelos homens fardados, pensar nós queríamos e, com muita força. Melhor alimentar além do que era oferecido naqueles pratos  indigestos do cardápio repressor.
O tempo passou e tenho de aceitar, ainda que, de forma paradoxal ,  as liberdades permitidas dos dias de hoje.  
Dentre elas a possibilidade, como esta, de poder registrar pensamentos e recordações no espaço cibernético.
O que fizeram da liberdade, conquistada a duras penas, é a questão do momento.
Será que existe mesmo?!
Claro que não.
A impressão que fica é a de que os idealistas do meu tempo sucumbiram ante o capitalismo escravocrata (com jeitão de bom moço) que corrompe o seu próprio habitat.
Só resta a esperança de que pensamento evolua, de que os humanos sejam menos egoístas e, de que, o perigo  do fascismo, disfarçado em algumas campanhas "bem intencionadas" saia, o quanto antes, do nosso cotidiano.
Esperança equilibrista.
Não é mesmo, João Bosco?!


Alhos, bugalhos e bagulhos.
Fazer o que?!
A vida é assim.


Fred, 07/10/2011












   

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