quinta-feira, 10 de março de 2011

O Alcoolismo


(Fragmento do livro Álcool Ajuda ou Autoajuda - Fred Explica - 1999)
Nota: Os textos postados neste blog não obedecem a nenhuma ordem cronológica.
(...)


"Os desvios de rota são, em muitas vezes, proporcionados por pessoas queridas. Elas não o fazem por maldade, elas gostam da nossa companhia ..."


Certo dia, numas divagações existenciais, andei pensando que esta vida poderia ser uma espécie de ensaio ou preparação para outra. 

Quem sabe um rascunho? 
Dos sofrimentos que servem de lapidação, o alcoolismo é um fator social da maior importância e, dentre outras dependências químicas, deveria ser observado num padrão menos generalizado, considerando cada ser humano como possuidor de características que o diferem dos demais, não se podendo aplicar em todos os casos a mesma receita. 
Conseguindo-se sucesso ou cura, o maior mérito é do próprio indivíduo. 
Quando conquistamos o que é chamado de paz interior encontramos um mundo novo. 
O conhecimento ou a procura de se melhorar como pessoa é um dos primeiros caminhos a perseguir. 
Os prazeres fáceis que se nos apresenta o cotidiano são as armadilhas de plantão a nos desviar constantemente de objetivos saudáveis. 
A batalha contra o vício é uma luta interessante. 
Os desvios de rota são, em muitas vezes, proporcionados por pessoas queridas. 
Elas não o fazem por maldade, elas gostam da nossa companhia. 
A contribuição dos fatores externos como da medicina e a intervenção dos verdadeiros amigos ajudam muito na recuperação, mas, sem grande determinação e reconhecimento da dependência por parte do paciente, torna-se impotente qualquer investida com a finalidade de demover o doente do hábito. 
Lembro de um botequim que freqüentava. 
Uma noite cheguei um pouco atrasado e o papo já rolava agitado e inspirado por bebidas das mais variadas. O mesmo grupo que ali se reunia falava sobre muitos temas ao mesmo tempo: futebol, política, gostos musicais, intrigas, fofocas, boas piadas e aquelas infames – quanto mais infame melhor. 
O burburinho aumentava de volume. 
Todos queriam ser ouvidos e o proprietário do estabelecimento, como numa guerra, também aumentava o calibre do som ambiente. 
Uma paranóia total. 
Pensei largar da bebida ou, então, nunca mais chegar tarde naquelas reuniões de tanto significado para a nação brasileira e para o futuro dos nossos filhos... 
Estava chegando a turma do pagode e aí... 
Nem me viram chegando e nem me viram sair de fininho. 
Fui pra casa mais cedo e, minha mulher, num misto de alegria e espanto: o que é que houve... já chegou?
Bastou para eu refletir: o etilismo só é  negócio, mesmo, pro botequeiro - um ganho, afinal de contas, muito merecido - deve ser duro agüentar aquilo todo dia. 
E eu, numa pindaíba de fazer gosto, ao invés de procurar o aconchego do lar e restabelecer as forças físicas e mentais para o trabalho do dia seguinte, me metendo em assuntos, até inteligentes, porém inúteis. 
A situação não permitia tal luxo. 
Hoje, onze anos após abandonar o alcoolismo, pensei deixar algo registrado, um pequeno manual para os companheiros que estão estagnados no vício, achando-se incapazes de encontrar uma saída e, quem sabe, a minha experiência poderia inspirá-los ou motivar a empreitada.
(...)
Fred, 10/03/2011

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