sábado, 26 de março de 2011

Mente natural, naturalmente.


A minha relação com a natureza é pura paixão.
Vem da longínqua infância o sentimento de posse e ciúmes.
Certamente é daí que saem as implicâncias contra essas ONGs, esse pessoal do asfalto sem o teto do mato e esses artistas do cinema internacional mais interessados nos produtos e na tutela arrogante, que nos aromas da relva do orvalho nas plantas do interior.
Falam comigo o Catulo da Paixão Cearense em sua verve cabocla e um pouco, agora, da infância de Guimarães Rosa brincando, quem sabe, nas grutas misteriosas de Cordisburgo.
Andar descalço pelas correntezas dos córregos rasos, pegar coceira de muriçocas, carrapatos e bichos de pé.
Entardecer e amanhecer no mato vendo, escutando e sentindo a vida dormir e acordar. 
Ouvir o canto dos pássaros sentado na madeira do curral. 
Tem que amar o cheiro do esterco.
Se até os pássaros gostam, tem que gostar, também, de viola caipira.
Estrada de terra, poeira, mata-burros e porteiras.
Correr de marimbondo morrendo de rir.
Andar no meio do capim navalha e chegar arranhado em casa.
Dizer oi pra todo sertanejo que cruzar o seu caminho na vila ou nas trilhas estreitas do matagal.
A natureza não precisa da gente.
Precisa de gente.
(ZZFred, 26/03/2011)


"Quando escrevo, repito o que já vivi antes.
E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.
Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo
vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser
um crocodilo porque amo os grandes rios,
pois são profundos como a alma de um homem.
Na superfície são muito vivazes e claros,
mas nas profundezas são tranqüilos e escuros
como o sofrimento dos homens."
João Guimarães Rosa

Nenhum comentário:

Postar um comentário