sábado, 19 de fevereiro de 2011

Ajudar



(Fragmento do livro Álcool Ajuda ou Autoajuda - Fred Explica - 1999)
Nota: Os textos postados neste blog não obedecem a nenhuma ordem cronológica.
(...)
"Olha, completaria, quando você coloca a bebida como pré-requisito para alguma coisa você deve ficar preocupado, pois eu estava bebendo para fazer qualquer negócio e - se você bebe para, pára! ..."





Sempre era levado a pensar nos preconceitos sociais.
Quantas vezes eu mesmo, em roda de amigos, fazia observações do tipo:
"Fulano depois de se tornar crente (todas as religiões entravam na história) acha que é superior e, no entanto, não passa de um fanático. 
Isso é lavagem cerebral.
Depois de aprontar todas, ele agora dá uma de santo." 

Tendo um pouco da luz do conhecimento espírita, essas lembranças preocupavam. 
Tinha plano de ajudar amigos ou quem precisasse, passando um pouco de esperança. 
Queria dizer com todas as letras: existe muita coisa além da cachaça! 
Montei um esquema na cabeça. 
Voltaria aos bares que freqüentava, pediria um 
refrigerante e aguardaria a pergunta óbvia: 
- Você parou mesmo de beber? 
Responderia simplesmente que sim e aguardaria 

desenrolar a conversa. 
Certamente perguntariam qual o método que houvera utilizado e eu começaria com muito cuidado o seguinte argumento: 
- Vocês bebem socialmente, não se preocupem! 
Haveriam de perceber o sarcasmo e negar a minha afirmação. 
- Que socialmente que nada, responderiam na certa.
Eu conhecia o pessoal.
Aí resumiria a história da internação e chegaria na mensagem: 
"Não queria dar uma de pregador religioso e nem de um militante dos Alcoólicos Anônimos (essa maravilhosa instituição que tanto tem feito na mesma direção), acontece que a bebida foi me pegando devagar. Não conseguia me imaginar em uma pescaria, num jogo de cartas ou no Mineirão sem tomar uma. Festa de criança então, naquela algazarra toda hein?...(Haveria de brincar nessa hora).
Olha, completaria, quando você coloca a bebida como pré-requisito para alguma coisa você deve ficar preocupado, pois eu estava bebendo para fazer qualquer negócio e - se você bebe para, pára!"
Pronto, a semente estaria lançada e, quem quisesse apoio que me procurasse.
No mínimo ficaria como a estória do beija-flor apagando incêndio gota a gota.
Mas, alcoólatra tem cada uma!
Quando comentei com o Ligeirinho a intenção e a estratégia que usaria, saiu com essas preciosidades: 
"Amigo, mais do que comer os frutos, você tem o prazer de criar, de plantar e ver crescer.
Ver pessoas desfrutando seu pomar. 
Quando disse que plantava milhos em seu quintal, não lhe preocupava o trabalho da capina e da preparação das covas. 
Você fazia uma a uma com cuidados de escultor. 
Suas mãos se feriam no trabalho, mas você o fazia querendo distribuir a colheita - as belas espigas.
Você não gostava tanto de milho verde assim.
Que prazer sentia ao ver crescer o milharal, enchendo o quintal de exuberante verde ou, então, quando seus filhos e sua esposa colhiam o fruto de seu trabalho. 
Você é uma pessoa especial. 
Sua vaidade é dirigida ao seu próximo. 
Sua felicidade é a felicidade de seu próximo. 
A grande oportunidade de recomeçar agora lhe é colocada à frente e, com essa intenção, com certeza chegará ao grande final. 
Dentro de pouco tempo estará cercado de pessoas que agradecerão tê-las ajudado sair do vício. 
Ninguém teme o trabalho quando conhece o resultado. 
Visualize o futuro. 
Você pode. 
Você é especial. 
Sua inteligência é testemunhada por todos que o conhecem e você sabe que o segredo do comportamento inteligente é simplificar as coisas." 
O Ligeirinho sabia como desviar um assunto.
Percebeu de imediato que eu estava fazendo laboratório com ele. 
A intenção era, também, bater na cangalha pro burro ouvir. 
Só que de ingênuo ele não tinha nada. 
Derramou elogios, próprios dos livros de autoajuda e desviou o curso da conversa.

(...) 

Fred, 19/02/2011 

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