quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Rabugices

Maluco Beleza de Raul Seixas na minha modesta interpretação

Mal humorado, ranzinza, rabugento, sei lá.
Às vezes me dou mal com essa mania de enxergar as coisas com desconfiança, procurando, sempre, os dois lados dos fatos. 
Um tribunal interior frequentemente se instala a despeito da minha vontade.  Vai da política ao futebol, passando pelos avanços tecnológicos e tudo mais. 
É um tormento. 
A língua portuguesa, então, nem se fala. 
Em época de globalização, quando se deveria simplificar e facilitar o intercâmbio para o resto do mundo e não só para os lusitanos, houveram por bem complicar ainda mais.
São tantas exceções que as regras perderam de vez o pouco do prestígio que tinham.    
Irresponsavelmente, aboliram o simpático trema. 
Será que levaram em conta as dificuldades dos “alfabetizandos” (crianças ou estrangeiros adultos) que terão aumentados o volume de palavras a serem decoradas quanto à forma de se pronunciar?
Quando cursava o ginasial me proibiram cortar o sete. 
Esse número ficava parecendo com o um na minha caligrafia. Na minha e na dos professores, o que era pior .
Logo eu que dificilmente tirava essa nota nas provas, como explicaria em casa que aquilo era sete e não um?
Mesmo conseguindo, já teria levado as broncas tradicionais.
Então decidi, inapelavelmente, irrestritamente, irritantemente, contra tudo e contra todos, além de pintá-lo, também corta-lo, por toda a eternidade.
Começou a onda de Quioto ou, Kyoto, para os engajados.
Uma verdadeira tsunami apontando o ser humano como causador nefasto de todas as intempéries climáticas do planeta. 
O tempo fechou.
Idealistas, ou “ideologistas”, homens da ciência, obrando regras sobre conclusões insofismáveis.
Ai de quem ousasse contrariá-los.
Queimaria na fogueira dos incrédulos e, fim de papo. 
Não queriam nem saber se o aquecimento do Pacífico e as atividades solares influenciavam a coisa. 
Passavam rapidinho sobre temas incômodos. 
A camada de ozônio. Ah, a camada de ozônio! Vocês se lembram?
Diziam que a emissão descontrolada de dióxido de carbono dos carros e das indústrias esburacavam a coitada.
Faziam acreditar que a tal camada funcionava como uma espécie de guarda-chuva a nos proteger dos impiedosos raios “ultra-violentos” do sol.
Dizer que a premissa era falsa dava cadeia por crime hediondo. 
O furo-buraco desse guarda-chuva era furo-mentira. 
O pobre do ozônio misturado na atmosfera não tem matéria quântica para deter nenhuma radiação.
Por que não falam mais nisso? 
A floresta amazônica como pulmão do mundo, uma verdade absoluta até pouco tempo.
Descobriram ou, deixaram escapulir, que ela consome através da fotossíntese todo o oxigênio que produz. 
Devolveram, então, pras algas marinhas todo prestígio solapado.
Todo fim de ano me proponho a não mais acompanhar futebol, indignado com as inteligências malignas que estão no comando de tudo.
Essa teia de interesses há muito distanciou a prática pseudo-esportiva dos ideais do Pierre de Coubertin.   
O capitalismo, que em tudo mete as garras, detonou a paixão nacional (a esportiva, é claro...) e a minha paciência.
Ruim de metáforas arriscaria dizer que o quadro parece, mais, um bando moleques famintos arremetendo contra um pé de jabuticabas. 
Cada um querendo uma quantidade maior de frutas pro seu bucho.
Dirigentes financistas e torcedores masoquistas perpetuam esse jogo.
Falando nisso, preciso saber a data da primeira partida do meu time no campeonato.
Ninguém é de ferro, ora!
Resolvi matar os insetos do escritório com fumaça de cigarro.
Coitados, eles não entendem que estão fumando de tabela.
Os que sabem, não aparecem mais aqui para atazanar a solidão que existe.
Fred, janeiro de 2011

Um comentário:

  1. Texto super, hiper, mega! As palavras compactuam com você ao surgirem de modo tão brilhante pra traduzir seu pensamento, que dá um prazer enorme de ler. Além de eu concordar com o conteúdo, a forma foi mais um belo produto da sua efervecente solidão produtiva.

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