sábado, 1 de janeiro de 2011

Rabo de Peixe


(Fragmento do livro Álcool Ajuda ou Autoajuda - Fred Explica - 1999)
Nota: Os textos postados neste blog não obedecem a nenhuma ordem cronológica.
ZZFred
(...)


Anos sessenta 







"Carrões rabo de peixe causavam frisson  nas  belas garotas que enfeitavam as ruas"






- Ô Gordo, vamos dar uma volta?
- Qualé Serginho, isso deve ser roubado!
- Não, camarada; esse carro é do meu pai!
O Gordo sabia do mau hábito do amigo que, apesar de bem apessoado e filho de um rico empresário de Belo Horizonte, gostava de desfilar pela capital mineira dirigindo veículo que lhe atraísse não importando quem fosse o proprietário.
Péssima conduta!
Todavia, pelos argumentos do companheiro que não era como ele que ganhava o pão de cada dia ajudando seu pai na lanchonete, o Gordo houve por bem acreditar.
Saltou sobre a porta lateral do impecável conversível branco com volante vermelho e tomou seu lugar na poltrona de couro ao lado do motorista.
Carrões rabo de peixe causavam frisson nas belas garotas que enfeitavam as ruas.
Como sempre, a cidade estava preguiçosa e vazia em tarde quente de domingo.
O Gordo era um rapaz de musculatura compactada numa estatura mediana. Descendência italiana, olhos azuis, cabelos loiros e lisos que ficavam caindo aos olhos criando o cacoete de jogá-los a todo o momento para trás com um movimento repetitivo de cabeça. Destacava-se por ser, também, um bom mecânico de automóveis e de motocicletas.
Além de forte e bom de briga, a habilidade em lidar com máquinas era seu passaporte para infiltrar no nível social acima do dele.
Recostado à porta, contando suas proezas na recuperação dos veículos, observava o amigo guiando tranqüilamente, direção à lagoa da Pampulha, com apenas uma das mãos ao volante.
Belo Horizonte era calma.
Respirava-se e suspirava-se profundamente.
A Pampulha, um dos paraísos.
Lambretas, motos e carros importados.
Lugar de ricos e simpatizantes.
James Dean e Elvis Presley faziam a cabeça da geração anterior a minha.
No caminho de volta ao centro da cidade, Serginho revelou com um sorriso:
- Peguei esse carro lá perto da turma, na rua Guajajaras.
O Gordo entrou em pânico.
- Pare o carro, não quero me envolver nessa maluquice!
Com ar debochado, respondeu indo em direção ao local do furto numa velocidade que não permitiu ao pobre condenado saltar do veículo:
- Fique calmo, tenho tudo sob controle!
Gotas de um frio suor começaram a descer pelo rosto do passageiro quando avistou duas viaturas policiais à porta da casa de onde fora executado o furto.
Logo uma senhora de meia idade identificou, subindo pela rua, o objeto alvo do seu desespero.
- Olha lá, olha lá. É o meu carro!
Os policiais, armas em punho, detiveram os supostos ladrões enquanto a proprietária se aproximava para verificar possíveis danos, entretanto, a jóia estava intacta.
A essa altura, mãos levantadas, Serginho explicava inocentemente à inconsolável criatura:
- Minha senhora; estávamos passando pela Pampulha quando um sujeito moreno nos pediu que trouxéssemos o carro para este endereço e que, ainda, receberíamos uma recompensa do proprietário.
- Eu não preciso disso, continuou. Sou filho de fulano de tal. Meu pai tem vários carros à minha disposição!
- Meu rapaz; exclamou aliviada. O sujeito era um ladrão, vocês correram um grande risco!
- Faço questão que aceitem uma pequena gratificação, insistiu.
Pela evidenciada inocência, logo foram liberados.
Dobrando a esquina, de volta e contando o dinheiro, ficaram os dois se debruçando em gargalhadas, fruto da aventura irresponsável.
(...)
Fred, 01/01/2011

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