sábado, 6 de agosto de 2011

Como tudo começou

(Fragmento do livro Álcool Ajuda ou Autoajuda - Fred Explica - 1999)
Nota: Os textos postados neste blog não obedecem a nenhuma ordem cronológica.

(O vídeo abaixo foi postado no YouTube por http://www.youtube.com/user/lazzinho  ele mostra Lavras-MG em 1947)

(...)
- Se vocês quiserem salvar a vida desse menino é melhor leva-lo para Belo Horizonte – disse o médico aos meus pais.

Em 1953 eu tinha quatro anos. Sofria de alguma coisa que os médicos de Lavras esgotaram os recursos que dispunham na época tentando descobrir o que era para tentar a cura.
Meu pai, funcionário público, lotado no Fomento Agrícola de MInas Gerais, tinha salário modesto. Mesmo assim resolveram, ele e minha mãe, mudarem-se para a capital.
Rua Espírito Santo número 2.268-A, bairro Santo Antônio, o nosso primeiro endereço.
A letra depois do número aguçaria, mais tarde, a minha curiosidade infantil.
Contaram que colocavam letras depois do número quando havia no mesmo local mais de uma moradia; o que era o caso.
Morávamos no porão.
Assim era chamada a residência que ficava abaixo do nível da rua.
Entretanto, possuía quatro quartos, uma cozinha enorme com um balcão no meio, dependência de empregada completa e o quintal era dividido com os moradores de cima por uma cerca de arame.
Por indicação dos médicos de Lavras meus pais procuraram o Doutor Berardo Nunam.
De cara, mandou que suspendessem toda medicação.
Grande notícia! Eu detestava as injeções e não agüentava mais o barulhinho da seringa de vidro que todos os dias era fervida para assepsia.
- Esse menino está intoxicado, ele é alérgico a sulfa. Horácio, onde vocês moram? – perguntou o médico.
- Na rua Espírito Santo, em frente ao Minas Tênis.
- O remédio dele está ali. Como o preço da cota está pela hora da morte, inscreva-o como sócio remido que ele poderá freqüentar o clube e desfrutar dos esportes que oferecem – em breve estará curado.
Dito e feito.
Logo a doença foi para o espaço, junto com o sofrimento que até hoje tenho na mente apesar do tempo que passou. Estava livre do tormento diário das injeções e fazendo o que toda criança gosta: brincar, nadar e jogar futebol.
E assim foi até adquirir idade para estudar no Grupo Escolar Afonso Pena até o quarto ano do curso primário.
Depois disso nos mudamos para o centro da cidade e matricularam-me no Colégio Santo Agostinho.
Meu pai dava aulas na AEC para completar o orçamento doméstico e havia um convênio que permitia bolsa de estudos para os filhos de professores.
O Santo Agostinho, muito conceituado, mensalidades de custo proibitivo e, não fosse a benesse da gratuidade, dificilmente eu teria condições de estudar ali.
Não podia ser reprovado. A bolsa seria cancelada, e aí...
Mesmo nesse quadro, eu tinha um pé na escola e outro na rua como todo adolescente.
O ambiente formou a base do cidadão que se atreve às memórias que seguirão sem a pretensão de uma autobiografia, tentando mostrar através de casos pitorescos e pontos de vista de época, o desenrolar de meio centenário numa sociedade conturbada  pela ditadura e depois, pelo que saiu do liquidificador.

(...)
ZZFred, 06/08/2011

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