domingo, 14 de agosto de 2011

Cliente não é "alvo"

(Fragmento do livro Álcool Ajuda ou Autoajuda - Fred Explica - 1999)
Nota: Os textos postados neste blog não obedecem a nenhuma ordem cronológica.


[A intenção da postagem é de, apenas, mostrar o que ia na cabeça do autor na época.  Se utopias existem, a intenção foi a melhor possível;  sem mergulhar na complexidade da macro-economia]
(...)
Foto em: es.gov.br 

Antes da internação eu tinha fechado as portas de uma pequena empresa de material elétrico que ajudava sustentar a família e que funcionou por três anos.
Ela se tornou inviável pela conjuntura econômica da época e muito, também, pela rebeldia de não engolir as coisas como são apresentadas pelos ditadores da área econômica.
O estilo de comercializar que era adotado priorizava a ética no trato com a clientela e um caso verídico, por incrível que possa parecer - e não devia - aconteceu na loja em uma ocasião.
Um cliente, senhor de idade avançada, demonstrando a humildade própria da sabedoria adquirida em sofrimentos acumulados, abordou o balconista e solicitou 20 lâmpadas de 40 Watts.
Prontamente atendido; lâmpadas testadas e embaladas,  foi dado o valor a pagar.
- Lampadazinhas caras, em moço?! - Disse o senhor enquanto juntava  dinheiro para o pagamento.
Eu, que observava à distância, aguardei a saída do cliente para perguntar ao vendedor sobre o fato.
Nossa chefe! Foram vendidas lâmpadas incandescentes no preço das fluorescentes!
Aflito, juntei o excedente, produto do lamentável equívoco, saí apressado pelas ruas do bairro à procura da vítima, perguntando por aqui e por ali.
Depois de alguns quarteirões avistei o velho andando cabisbaixo e vagarosamente.
- Senhor, exclamei já ofegante pela corrida e pelo calor escaldante do verão - desculpe o nosso erro - meu funcionário, distraído, cometeu um engano no valor da compra que o senhor acabou de fazer em minha loja.
O que aconteceu? Por acaso ainda fiquei devendo? Ironizou, com fogo nos olhos.
Não, amigo, estou aqui para devolver o que foi pago a maior.
Espantado observou: ainda existe gente assim hoje em dia?
Feita a devolução, que era volumosa para o bolso daquele cidadão, observamos duas figuras em duas situações distintas - o velho sorrindo, cabeça erguida de esperança retomando seu caminho e, o outro, voltando para o trabalho com a sensação do dever cumprido.
Acreditem ou não, esse pequeno fato teve grande repercussão nas redondezas e os negócios da loja cresceram em decorrência da  divulgação boca a boca.
Planos de Saúde, médicos, engenheiros, pedreiros, veterinários, cartões de crédito, empresas que utilizam os famigerados contratos por adesão, senhor presidente, senhores governadores, senhores prefeitos, legisladores, profissionais liberais, comerciantes, industriais, afinal a quem possa interessar, vamos repensar nossas ações e tentar melhorar o capitalismo desumano, inspirados nessa narrativa?
Com o advento do Procon, que veio cumprir as funções de proteção ao consumidor, instalou-se uma relação de confronto entre as partes e, esse órgão, já se mostra incapaz de resolver as questões em função do acúmulo de processos emperrados nas prateleiras.
As empresas vivem imaginando como levar vantagem sobre o pobre do consumidor, abrindo mão de qualquer conceito de ética em nome do lucro.
O público alvo perdeu a idéia de meta para ser, como num estande de treinamento, aquela figura que se tem de atingir, com balas ou setas, bem no meio ou, quanto mais no centro, melhor. 
Não estaria, também, na hora de repensar a volta dos atacadistas que exerciam as funções de distribuição e filtragem de produtos? (As mercadorias defeituosas eram devolvidas aos fabricantes).
Como vantagem adicional o mercado de trabalho ganharia incremento considerável de novas vagas. Poderiam criar uma lei que regulamentasse a proibição de vender diretamente da fábrica ao consumidor, punindo severamente qualquer artifício que atentasse contra o processo, como lojas em nome de parentes ou procedimentos que evidenciassem o aparecimento dos conhecidos laranjas.
Exercer, concomitantemente, atacado e varejo é outra excrescência que prejudica os pequenos comerciantes.   
- Organizar a economia, isso, sim, é competência do Estado!
E não me venham com essa: coitado, mais um sonhador. Estamos em plena era da globalização (ou bobalização?) e aparece um Dom Quixote com idéia estapafúrdia.
A mudança dá lucro, experimentem e verão.
(...)
Fred, 14/08/2011

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