sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Prestadora que não presta

Minha prestadora não presta. Enlouqueceu-me.
Por uns momentos, é certo, mas cheguei aos limites dos meus piores instintos. Coisa simples se é que se pode falar assim. A conta não chegou e me ligaram lá de Fortaleza dizendo que se não pagasse a conta vencida teria os serviços cortados. Ora, meu Deus, que país novo rico é esse? Não te comunicam uma dívida e ainda fazem ameaças? Depois desses contratos por adesão que são uma versão calhorda dos antigos contratos caracu onde o contratante entrava com a cara e o consumidor com o resto, a impressão que fica é a de que vivemos a ditadura das prestadoras imprestáveis.  A elas todos os poderes e a nós, cabe obedecer.  Se não, adeus comunicação.
Muito bem, fui, no sacrifício, ligar pros caras depois de aumentar a dose do remedinho.
Fiquei calminho, calminho, e comecei a via sacra de um longo papo com aquela voz cibernética até chegar a ser acolhido por um humano automatizado. Precisava da segunda via da conta para fazer o pagamento.  Seria fácil se não fosse complicado. Combinamos de eles remeterem a dita cuja por e-mail. Informei dois endereços para não ter perigo de não receber. 
Chegou e fui imprimir.
Os déspotas incompetentes colocam o código de barra no final da página.  Aí, a primeira metade das barrinhas fica numa página e a outra metade na outra.
Se a minha impressora e eu somos jurássicos,  o problema é meu. 
Lamentável e literalmente.
Respirei fundo e mandei o e-mail pra loja do meu filho para que fizesse a impressão numa máquina mais moderna.
Trânsito dos infernos em época próxima ao natal. Parei em fila dupla, escutei xingamentos e buzinei até que a obra chegasse às minhas mãos, carregada apressadamente por um gentil funcionário de lá.
Ficou que nem a original. Um pouco menor, mas ficou.
Até a logomarca saiu colorida.  Uma beleza!
Aí fui pro caixa eletrônico liquidar, finalmente, a maldita conta. Não, sem antes passar pelas dificuldades do tráfego.
Pelo adiantado da idade, aproveitei o caixa dos pés na cova.  
Três senhoras muito bem humoradas estavam à minha frente fazendo piadinhas sobre o fato das poucas vantagens que se tem na terceira idade.  Aquela fila pequena seria uma delas. Esqueceram que a facilidade seria real se não perdessem tanto tempo filosofando, procurando cartão na bolsa, tentando lembrar a senha e, depois, morrendo de rir quando digitavam errado até que uma funcionária fosse até lá para completar o serviço.
Uma hora depois da conferência ideológica  e da tortura digital que se seguiu, chegou a minha vez.
Coloquei o cartão no buraquinho, selecionei a opção certa e direcionei o código de barras no local devido e...nada. Insisti algumas vezes até que apareceu a opção de digitar os números já que a leitora analfabeta, não conseguia ler a tal cópia.
Apareceu, então, um jovem atencioso dizendo que era comum acontecer quando o documento não fosse original. Naquela hora o melhor foi assumir a senilidade, aceitando que o prestativo rapaz fizesse a digitação.
Pois não, senhor, apresentou-se o solícito indivíduo.
Ao ver os microscópicos números que saíram na cópia, coçou a cabeça levando o papel à altura do seu nariz. 
Tentou, tentou e desistiu.
Quer meus óculos?! Perguntei de forma meio sacana.
Agradeci e saí procurando uma lotérica para tentar o pagamento e ver se a sorte mudava.
Pagar aquele troço já seria um grande prêmio.

Um comentário:

  1. Ahh, como isso é comum! Incomum é a sua narrativa. É a prestadora que não presta, o atendimento que não atende, a segunda via inviável, a fila expressa sem pressa, e, finalmente, o prêmio da loteria que não se ganha, se paga. Isso porque estamos falando do setor privado, onde a concorrência deveria ditar as regras para melhorar os serviços ao consumidor. Por que será que eu tenho sempre a impressão que neste "duelo" eu tenho sempre mais obrigações do que direitos? Estranho... E viva a cerveja preta!

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